Quando a Permissão de Deus Não Significa Aprovação
Que a graça e a paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo sejam abundantes sobre a sua vida!
É uma alegria imensa poder estar aqui, para compartilhar a Palavra de Deus.
O texto bíblico dessa reflexão é Números 22:1-23. Leiamos:
¹ Então os israelitas viajaram para as campinas de Moabe e acamparam a leste do rio Jordão, do lado oposto de Jericó.
² Balaque, filho de Zipor, viu tudo que o povo de Israel havia feito aos amorreus.
³ Quando os moabitas viram como os israelitas eram numerosos, ficaram apavorados.
⁴ Disseram aos líderes de Midiã: “Essa multidão devorará tudo que estiver à vista, como um boi devora o capim no pasto!”.
Então Balaque, que era rei de Moabe,
⁵ enviou mensageiros para chamar Balaão, filho de Beor, que vivia em Petor, sua terra natal, perto do rio Eufrates. Sua mensagem dizia:
“Um povo enorme saiu do Egito e cobre a terra, e agora está acampado perto de mim.
⁶ Venha e amaldiçoe esse povo, pois é poderoso demais para mim. Então, quem sabe, poderei derrotá-lo e expulsá-lo da terra. Sei que bênçãos vêm sobre aqueles que você abençoa, e maldições caem sobre aqueles que você amaldiçoa”.
⁷ Os mensageiros de Balaque, líderes de Moabe e Midiã, partiram levando o valor necessário para pagar Balaão a fim de que ele amaldiçoasse Israel. Chegaram aonde Balaão estava e lhe transmitiram a mensagem de Balaque.
⁸ “Passem a noite aqui”, disse Balaão. “Pela manhã eu lhes direi que orientação recebi do Senhor.” E os oficiais de Moabe permaneceram com Balaão.
⁹ Naquela noite, Deus veio a Balaão e lhe perguntou: “Quem são seus visitantes?”.
¹⁰ Balaão respondeu a Deus: “Balaque, filho de Zipor, rei de Moabe, me enviou a seguinte mensagem:
¹¹ ‘Um povo enorme saiu do Egito e cobre a terra. Venha e amaldiçoe esse povo. Então, quem sabe, poderei enfrentá-lo e expulsá-lo da terra’”.
¹² Mas Deus disse a Balaão: “Não vá com eles nem amaldiçoe esse povo, pois é povo abençoado!”.
¹³ Na manhã seguinte, Balaão se levantou e disse aos oficiais de Balaque: “Voltem para casa! O Senhor não me permitiu ir com vocês”.
¹⁴ Os oficiais moabitas voltaram ao rei Balaque e lhe informaram: “Balaão se recusou a vir conosco”.
¹⁵ Então Balaque fez outra tentativa. Dessa vez, enviou um número maior de oficiais ainda mais importantes que os homens que tinha enviado inicialmente.
¹⁶ Eles foram até Balaão e lhe transmitiram a seguinte mensagem:
“É isto que diz Balaque, filho de Zipor: Por favor, não se recuse a vir me ajudar.
¹⁷ Pagarei muito bem e farei tudo que me pedir. Por favor, venha e amaldiçoe esse povo para mim”.
¹⁸ Balaão, porém, respondeu aos oficiais de Balaque: “Mesmo que Balaque me desse seu palácio cheio de prata e ouro, eu não poderia fazer coisa alguma, grande ou pequena, contra a vontade do Senhor, meu Deus.
¹⁹ Fiquem, porém, mais esta noite, e eu verei se o Senhor tem algo mais a me dizer”.
²⁰ Naquela noite, Deus veio a Balaão e lhe disse: “Uma vez que estes homens vieram chamá-lo, levante-se e vá com eles. Contudo, faça apenas o que eu mandar”.
²¹ Na manhã seguinte, Balaão se levantou, pôs a sela sobre sua jumenta e partiu com os oficiais moabitas.
²² A ira de Deus se acendeu porque Balaão foi com eles, de modo que enviou o anjo do Senhor para se pôr no caminho e impedir sua passagem. Enquanto Balaão ia montado na jumenta, acompanhado por dois servos,
²³ a jumenta de Balaão viu o anjo do Senhor em pé no caminho, segurando uma espada. A jumenta se desviou do caminho e saiu para um campo, mas Balaão bateu nela e a fez voltar para o caminho.
A Bíblia, irmãos, não é um livro de contos ou fábulas. A Palavra de Deus é fiel e verdadeira. Em Hebreus 4:12 está escrito assim:
Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.
Quantas vezes fazemos algo, e até mesmo algo para Deus, mas estamos com segundas intenções. Nos enganamos e esquecemos que ninguém engana Deus.
A história na qual vamos meditar é sobre um homem chamado Balaão. Muitos conhecem a história da jumenta que fala, e isso, por si só, já é algo extraordinário! Mas o que está por trás dessa história? Qual a profundidade espiritual que o Espírito Santo quer nos revelar?
Aqui, o contexto era o seguinte: Israel vinha avançando em grande número. Aqueles que tinham provocado o Senhor com a sua desobediência e incredulidade, após o relato negativo dos 10 espias sobre a terra prometida, já haviam morrido conforme o Senhor decretou, durante os quarenta anos que peregrinaram no deserto.
Tinham acabado de destruir os amorreus, o reino de Seon, rei de Esbon, e Ogue, rei de Basã, que formam os últimos gigantes que Israel enfrentou. A fama de Israel corria entre os povos. Eles acamparam nas campinas de Moabe o que provocou desespero a Balaque, rei de Moabe.
Então, sabendo que dificilmente, através da guerra, conseguiria vencer Israel, teve a ideia de propor a Balaão, que era considerado um profeta, que amaldiçoasse Israel para que assim tivesse condições de vencer a batalha.
O texto de Números 22:22 nos diz:
“A ira de Deus se acendeu porque Balaão foi com eles, de modo que enviou o anjo do Senhor para se pôr no caminho e impedir sua passagem, …”
Quando lemos esse versículo encontramos uma aparente contradição nesse texto. Nos versículos anteriores, lemos que Deus, de forma direta, diz a Balaão que ele poderia ir com os homens de Balaque.
“Se os homens vieram te chamar, levanta-te, vai com eles; porém o que eu te disser, isso farás.” (Números 22:20).
Mas logo em seguida, o texto diz que a ira de Deus se acendeu porque Balaão foi! Como pode ser isso? Deus permite e depois se ira?
Irmãos, a Palavra de Deus não se contradiz. Uma vez eu ouvi um pastor dizer que “o que na Bíblia parece contradição é apenas um desafio de interpretação”.
O problema não estava no ato, mas na intenção. O problema não era a viagem, mas o que estava no coração de Balaão ao fazer aquela viagem. O problema não é o caminho, mas o propósito do caminho.
Vamos mergulhar nisso, porque essa é a grande lição para a nossa vida hoje.
1. A Permissão de Deus e a Intenção do Coração

Deus permitiu que Balaão fosse, mas a permissão veio com uma condição: “porém o que eu te disser, isso farás.” Balaão era um profeta, um homem que ouvia a voz do Senhor. Ele sabia que não podia amaldiçoar Israel, porque Israel era o povo escolhido por Deus, um povo abençoado.
Mas quando os mensageiros de Balaque chegaram, eles não vieram de mãos vazias. Eles vieram com “honorários de adivinhação” (Números 22:7).
Em outras palavras, eles vieram com dinheiro, com promessas de riquezas e glória. E o que acontece? O coração de Balaão se inclina para a cobiça.
A sua motivação já não era obedecer a Deus, mas buscar o seu próprio benefício.
Você já parou para pensar quantas vezes em nossa vida pedimos a Deus uma permissão e, quando Ele nos dá, usamos essa permissão para alimentar a nossa própria vontade, para buscar os nossos próprios interesses?
Talvez Deus tenha te dado um bom emprego, mas você usa o dinheiro para alimentar a sua ganância, esquecendo de ser um bom mordomo dos bens que Deus te confiou.
Talvez Deus te deu um relacionamento, mas em vez de honrar a Deus com ele, você o usa para se satisfazer, para alimentar o ego, o orgulho.
Talvez Deus tenha te dado um dom, mas você o usa para se autopromover, para brilhar, e não para a glória de Deus.
A permissão de Deus não é um cheque em branco para fazer o que queremos. A permissão de Deus sempre está atrelada à Sua vontade, ao Seu propósito.
2. A Cegueira Espiritual e a Jumenta que Enxerga
A ira de Deus se acendeu porque Balaão estava indo para um caminho de rebeldia, de desobediência. Ele estava cego pela ganância. E para abrir os olhos de Balaão, Deus usa uma jumenta.
Essa é uma das ilustrações mais poderosas da Bíblia. O profeta, o homem que ouve a Deus, está tão cego pela sua ambição que um animal irracional tem mais discernimento espiritual do que ele.
A jumenta vê o anjo do Senhor, a espada desembainhada, e se desvia do caminho três vezes, Número 22:23-27. E o que Balaão faz? Ele bate na jumenta.
Quantas vezes, em nossa vida, Deus usa as circunstâncias para nos alertar, mas nós, cegos pelo nosso próprio interesse, insistimos no erro?
Olhando para essa situação de Balaão, eu fico refletindo que na ânsia de satisfazer os nossos desejos carnais ficamos tão cegos que não conseguimos enxergar os erros sucessivos que cometemos, pois a venda do pecado vem sobre nossos olhos e não enxergamos o caminho perigoso que estamos trilhando.
Eu conheci pessoas que entraram por um caminho de morte, ignorando a família e todas as bênçãos que o Senhor já lhes tinha dado, apostando na busca de uma falsa felicidade que não encontraram. Sofreram muito com essa escolha, mas, pela misericórdia do Senhor, voltaram.
Você está insistindo naquele relacionamento que não te edifica e Deus te manda sinais. Amigos te alertam, a paz se esvai, mas você continua insistindo.
Você está insistindo em um negócio que te afasta de Deus e Ele te manda sinais, as portas se fecham, as coisas dão errado, mas você continua insistindo.
A jumenta é a nossa consciência, é a voz do Espírito Santo que nos adverte, é o sinal que Deus envia para nos tirar do caminho da perdição.
E, muitas vezes, nós batemos nessa “jumenta”. Nós ignoramos a nossa consciência, ignoramos os conselhos, ignoramos os sinais de Deus.
3. O Caminho de Balaão: Cobiça e Rebeldia

O apóstolo Pedro e Judas, séculos depois, se referem ao “caminho de Balaão”. Eles não se referem à história da jumenta, mas à motivação do coração de Balaão. Eles chamam esse caminho de caminho da cobiça e da ganância.
“Ai deles! Porque entraram pelo caminho de Caim, e, movidos por ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na rebelião de Corá.” (Judas 11).
O caminho de Balaão não é um caminho físico; é um caminho espiritual, uma atitude do coração. É o caminho de quem se deixa seduzir pelo dinheiro, pelo poder, pela fama, e se desvia da vontade de Deus.
Uma vez um ouvi o resultado de uma pesquisa que tinha a seguinte pergunta: Você sabe que muitos políticos são corruptos e usam a sua posição para enriquecer de forma ilegal. Se você fosse eleito para um cargo público, o que você faria? A maioria disse que faria o mesmo. Isso me deixou perplexo e desanimado.
Irmãos, essa mentalidade tem que mudar. Nós como seguidores de Cristo temos que rejeitar esse tipo de comportamento, pois muitas vezes fazemos concessões com atitudes do dia-dia, que por mais que sejam pequenas aos nosso olhos, são um péssimo exemplo para os nosso filhos e um péssimo testemunho como cristãos.
De modo geral, por vezes, participamos da pirataria, fazemos negócios injustos, pronunciamos palavras torpes, falamos mal de pessoas, fazemos fofocas, entre outras coisas.
Não estou falando isso só para os irmãos, mas para mim também, para minha família.
Certa vez ouviu um pastor contar, no debate em uma rádio, que uma pessoa chegou até ele e perguntou: “Pastor, o senhor segue tudo o que prega? E ele teve a coragem de dizer que não, mas estava buscando em Deus a correção”.
Em Efésios 4:29 está escrito:
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem”.
O que é palavra torpe? Linguagem suja, ofensiva, maldosa ou destrutiva — isso pode incluir palavrões, fofocas, mentiras, sarcasmos agressivos, entre outros.
Outro dia irmãos, eu estava abaixado reposicionando o computador em um local. Quando levantei bati com a cabeça na quina de uma prateleira. Doeu muito e acabei falando uma palavra que não deveria ter falado, mas no mesmo instante veio o sentimento de vergonha e arrependimento.
Meus irmãos, Balaão é um alerta para nós. A sua história nos ensina que a ira de Deus não se acende porque erramos, mas porque insistimos no erro, porque endurecemos o nosso coração, porque amamos mais o nosso pecado do que a vontade de Deus.
A permissão de Deus está sempre atrelada à nossa obediência, à nossa busca por Ele de todo o nosso coração.
O verdadeiro evangelho não é sobre Deus nos dar tudo o que queremos, mas sobre nós nos submetermos a Ele, e confiarmos que a Sua vontade é boa, perfeita e agradável.
Conclusão
A história de Balaão é um espelho. Ela reflete a nossa condição humana que, muitas vezes, quer fazer a nossa própria vontade, mesmo sabendo que ela está em desacordo com a vontade de Deus.
A pergunta que eu te faço hoje é: Qual é a sua intenção? O que te move a fazer o que você faz? É a glória de Deus ou a sua própria glória? É o Reino de Deus ou o seu próprio reino? É o amor por Cristo ou o amor pelo que o mundo pode te oferecer?
1 Coríntios 10:31, diz assim:
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus”.
Que a história de Balaão sirva de alerta para nós. Que possamos, como o salmista, orar:
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos; e vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.” (Salmo 139:23-24).
Que não nos contentemos apenas com a permissão de Deus, mas que busquemos entender a Sua vontade, e andar nela de todo o nosso coração.
Que a nossa vida seja um reflexo da glória de Cristo, e que o nosso propósito seja sempre, e em todas as coisas, glorificar a Ele.
Que Deus abençoe a sua vida e a sua família, em nome de Jesus! Amém.