Adorando Também no Tédio: Veja Como

Para começar a nosso reflexão, leiamos Colossenses 3:23-24:

Vivemos numa época em que tudo grita por intensidade, por espetáculo, por resultados imediatos e visíveis. Somos bombardeados por imagens de “grandes momentos”: grandes eventos, grandes conquistas, grandes emoções, grandes revelações.

E, honestamente, quando pensamos na nossa fé, no nosso relacionamento com Deus, muitas vezes transferimos essa expectativa do “grande” para a esfera espiritual.

Esperamos por encontros com Deus que nos façam chorar rios, por momentos de oração onde sentimos uma eletricidade espiritual no ar, por um culto onde o poder de Deus se manifeste de forma sobrenatural.

E, sim, glória a Deus quando essas coisas acontecem! Elas são reais e poderosas e nos lembram da majestade e do poder do nosso Deus.

Mas o que acontece quando a vida espiritual, e até mesmo a vida em geral, não oferece esses picos de intensidade? O que fazemos nos longos platôs da rotina, nos vales da espera, nos desertos da aparente monotonia?

O que fazemos quando a leitura bíblica parece seca, a oração parece que não passa do teto, o serviço na igreja parece repetitivo e cansativo, e a vida parece um tédio? É sobre isso que a Palavra de Deus quer falar com você hoje.

A Nossa Luta Contra o Ordinário

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Mulher limpado a casa

Nós, como seres humanos, e muitas vezes como cristãos, temos uma dificuldade intrínseca em valorizar o ordinário. Desprezamos o comum.

Buscamos o extraordinário a todo custo, e quando ele não vem na hora que esperamos, ou na forma que imaginamos, nos frustramos, desanimamos e, pior, achamos que Deus não está presente ou que o que estamos fazendo não tem valor.

Quantas vezes deixamos de fazer aquela leitura diária da Bíblia porque “não sinto nada”? Quantas vezes pulamos o momento de oração porque “não estou inspirado”? Quantas vezes negligenciamos pequenas tarefas no serviço do Reino porque parecem insignificantes ou chatas?

O texto base que nos guia hoje nos lembra que nem sempre as coisas de Deus serão agradáveis de serem feitas. Muitas vezes, será necessário ter paciência e constância, mesmo em meio ao tédio.

A paciência e a constância não são apenas virtudes a serem desenvolvidas a despeito do tédio; elas são, em si mesmas, atos de adoração.

O Perigo de Procurar Deus Apenas na Tempestade

Nosso problema é que estamos viciados em “trovões” e “barulho”. Pensamos que a presença de Deus só se manifesta em grandes eventos, em sensações avassaladoras. E por isso, quando a vida é apenas o “murmúrio de uma brisa suave”, achamos que Deus se foi.

Lembre-se do profeta Elias? Após um grande confronto espiritual no Monte Carmelo, onde o fogo desceu do céu e o povo reconheceu a Deus (um momento de “trovão” e “fogo”!), e depois, devido às ameaças de Jezabel, Elias se viu fugindo, desanimado, querendo morrer. Ele se escondeu numa caverna.

E Deus veio ao seu encontro.

Em 1 Reis 19:11-12 (NVI) está escrito:

O vento, o terremoto, o fogo… todos fenômenos poderosos, chamativos, que prendem a atenção. Mas onde estava o Senhor? Na brisa suave.

O que isso nos ensina? Que Deus não está limitado a se manifestar apenas no espetacular. Ele pode estar, e muitas vezes está, presente nos momentos mais silenciosos, mais ordinários, naquilo que a nossa cultura do espetáculo chama de “tédio”.

Nós esperamos tanto ver o Senhor em uma tempestade, que esquecemos da Sua presença na brisa suave. E é na brisa suave que a Sua voz, muitas vezes, pode ser ouvida com mais clareza, pois o barulho do nosso próprio desejo por espetáculo já cessou.

Deus Presente no Comum – A Teologia do Cotidiano

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Pessoa se alimentando

Onde mais encontramos Deus? Não apenas nos momentos de êxtase espiritual, mas nos detalhes do nosso dia a dia. Veja Colossenses 3:17 (NVI):

Pense nessa palavra: “Tudo“. Não é “algumas coisas”, não é “as coisas espirituais na igreja”, não é “apenas os grandes feitos missionários”. É tudo:

  • O seu trabalho secular, mesmo que pareça monótono;
  • As tarefas domésticas, mesmo que sejam repetitivas;
  • O cuidado com os filhos, mesmo que seja exaustivo;
  • A conversa com um colega de trabalho, mesmo que sobre assuntos triviais;
  • A leitura da Bíblia pela manhã, mesmo que você não “sinta” nada;
  • A oração silenciosa enquanto você enfrenta o trânsito.

Fazer algo “em nome do Senhor Jesus” significa fazê-lo com a consciência da Sua presença, buscando a Sua aprovação, refletindo o Seu caráter, dedicando aquela ação a Ele. Isso transforma a ação mais comum em um ato de adoração. Isso santifica o ordinário.

Nossas orações no secreto, em nosso quarto, são poderosas, sim! O Senhor Jesus nos ensinou a importância delas em Mateus 6:6:

Mas as orações feitas durante as atividades cotidianas, as conversas constantes com Deus enquanto você lava louça, dirige, estuda, trabalha…

Essas podem ser ainda mais transformadoras, porque elas convidam Deus para toda a sua vida, para ser íntimo, para caminhar ao seu lado em todos os instantes, e não apenas nos “momentos devocionais” formais. Isso é adoração contínua!

Fidelidade no Mínimo Prepara Para o Muito

Por que Deus quer que O adoremos e sejamos fieis no tédio, no comum, no ordinário? Porque o ordinário é a escola de Deus para o extraordinário. Em Lucas 16:10, está escrito assim:

Esta é uma verdade espiritual profunda. Deus não nos entrega grandes responsabilidades ou nos revela coisas maiores antes de provar a nossa fidelidade nas coisas pequenas.

A disciplina de se levantar cedo para orar e ler a Palavra, mesmo quando não há vontade; a perseverança em servir numa função na igreja que ninguém vê ou aplaude; a paciência em amar um irmão que nos irrita; a honestidade em uma pequena transação financeira… tudo isso é o “mínimo”.

É nessa fidelidade no “mínimo”, naquilo que parece chato, repetitivo, sem glamour, que o nosso caráter é forjado. É onde aprendemos a depender de Deus pela simples fé, e não pela emoção ou pelos resultados visíveis. É onde desenvolvemos a perseverança que nos sustentará quando o “muito” chegar.

Tiago 1:2-4, diz assim:

A “prova da fé” muitas vezes não vem apenas em grandes crises, mas na rotina que exige constância, na espera que exige paciência, no serviço que exige humildade e repetição. Isso produz perseverança, e a perseverança nos amadurece.

O tédio, visto sob a ótica divina, pode ser um dos maiores laboratórios de crescimento espiritual!

Seu “tédio” de hoje, sua rotina “chata”, sua tarefa “insignificante” é a forma como Deus está te preparando, te moldando, te ensinando a ser fiel. Não despreze esses momentos! Eles são a lenha que está sendo juntada para a fogueira do avivamento que Deus quer acender em você e através de você.

O avivamento não começa num grande palco. Começa no seu quarto, na sua casa, no seu local de trabalho, na sua vizinhança, na sua vida ordinária, quando você escolhe ser fiel, quando você escolhe adorar, quando você escolhe reconhecer a presença de Deus mesmo na brisa suave.

Você pode gostar de ler: A Consciência, a Fé e a Disciplina: Uma Jornada de Fidelidade a Deus

Tome Uma Atitude Hoje

O que a Palavra de Deus nos convoca a fazer hoje? Ela nos chama a mudar nossa perspectiva. O tédio não é a ausência de Deus; pode ser o convite para uma intimidade mais profunda, um teste de nossa fidelidade e uma preparação para o que Ele ainda fará.

Como podemos adorar no tédio?

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Homem orando

Reconheça a presença de Deus: Lembre-se que Ele está com você em todos os momentos, não apenas nos emocionantes. Ele está na brisa suave.

Faça tudo “em nome de Jesus”: Veja cada tarefa, por mais simples que seja, como uma oportunidade de servir e honrar Aquele que te salvou. 

Em Colossenses 3:17 está escrito:

Seja fiel no mínimo: Valorize a constância, a disciplina, a perseverança nas pequenas coisas, como vimos em Lucas 16:10. Sua fidelidade no ordinário é a chave para o extraordinário que Deus tem para você.

Cultive a gratidão pelo ordinário: Agradeça a Deus pelas coisas simples, pela saúde para fazer as tarefas, por um copo d’água que você bebeu, pela oportunidade de servir, mesmo que pareça insignificante. A gratidão abre nossos olhos para ver a beleza e a presença de Deus onde antes víamos apenas rotina e tédio.

Ore sem cessar: Transforme suas atividades diárias em diálogos contínuos com Deus, como em 1 Tessalonicenses 5:17:

Leve Deus Para a Carroça Quebrada da Sua Vida!

Não espere pelos trovões para sentir a presença de Deus. Não espere pelo grande palco para começar a viver o seu chamado. Deus está te chamando para ser fiel agora, onde você está, com o que você tem, no meio da sua vida ordinária.

A fidelidade no tédio constroi o caráter. A adoração na rotina aprofunda a intimidade. A perseverança no ordinário nos prepara para o propósito extraordinário de Deus.

Conclusão

Meu irmão, que saibamos encontrar a brisa suave de Deus nos momentos que parecem tediosos. Que o nosso serviço, mesmo quando repetitivo, seja visto como um ato sagrado de adoração ao Senhor que nos amou primeiro.

Que a nossa fidelidade nas pequenas coisas nos capacite para as grandes obras que Deus tem reservadas.

Que nada nos abale, sejamos firmes e dedicados à obra do Senhor, pois o nosso trabalho Nele jamais será inútil! Veja o que diz 1 Coríntios 15:58:

Que a partir de hoje, você olhe para os momentos “tediosos” da sua vida não como obstáculos à sua fé, mas como oportunidades douradas para adorar o Deus que está presente em tudo. Permita que o ordinário te prepare para o extraordinário, e viva o melhor de Deus todos os dias, em todos os momentos.

Que assim seja, para a glória de Deus!